Artigo sobre o desumano atendimento da Farmácia do Estado do RS
Que não sirva esta façanha
Uma ímpia, porque desumana, cruel e injusta guerra é travada, diariamente, entre os
doentes do Rio Grande do Sul e o serviço da Farmácia de Medicamentos Especiais
do Estado, (Avenida Borges de Medeiros com a Riachuelo, em Porto Alegre). Faça
chuva, faça sol, a quilométrica fila se forma cedinho, desde as 7h e, sem o menor
questionamento, as pessoas vão montando um expressivo número que poderia ilustrar
uma, entre tantas estatísticas, que revelam o descompromisso com a cambaleante saúde
em nosso Estado. A torturante espera é formada por grupos diversos: os que vão retirar
o medicamento, os que estão reavaliando o pedido, os que receberão como resposta: seu
remédio está em falta, sem previsão de normalidade e os que estão com tudo em dia e
aguardam silenciosamente.
O desqualificado e não menos demorado serviço prestado pelo governo do Rio Grande do Sul
aos seus doentes não é questionado por seus milhares de usuários. Acredito que a palavra
“gratuita” acaba por calar, principalmente os idosos, bem mais fragilizados. E por falar nessa
faixa etária, convém destacar que a rotina adotada pelos servidores, não inclui o atendimento
prioritário aos nossos velhinhos. Eles permanecem ali junto aos que possuem maior resistência
física, por minutos, horas, diga-se de passagem, em pé, do lado de fora do prédio
Pois bem, sobrevivendo à fila chega-se ao tão sonhado momento de encaminharmos o pedido
e rezarmos para encontrarmos uma cadeira desocupada na minúscula sala que vem a ser o
triste cenário do segundo martírio do dia. Esta humilhante situação se arrasta há anos fazendo
da doença um fardo ainda mais pesado. Seria interessante entender que os servidores que ali
estão não são os responsáveis por este descaso, mas assimilam a incompetência do sistema
que não prioriza o ser humano.
Vem aí um novo pleito, nova disputa eleitoral e a saúde toma conta dos debates. Será que,
novos homens e mulheres continuarão com o com o velho e repugnante desrespeito pela
pessoa?
Sílvia do Canto
Jornalista, portadora de Parkinson e usuária da Farmácia de Medicamentos Especiais.